Toda vez que as coisas melhoram um pouco para quem vive do trabalho e recebe salário (baixo ou alto), a narrativa do sistema financeiro é sempre a mesma: pode gerar problemas futuros na economia, como maior consumo e alta da inflação. É o que diz a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgada nesta terça (26).
Os economistas do BC culpam, de forma absurda, a geração de empregos e o aumento dos salários no governo Lula pelo aumento na estimativa da inflação e cita “preocupação” com o crescimento econômico no país. Então, para esse pessoal, bom é ter desemprego e baixos salários?
“O Comitê se deteve em profundidade na discussão do mercado de trabalho e avalia que os aumentos salariais no período corrente podem estar ligados, em alguma medida, a pressões no mercado de trabalho”, diz a ata, em seu ítem 11, para justificar uma redução no ritmo de cortes dos juros da Selic. Na sexta (22), o Copom reduziu a taxa básica de juros para 10,75% ao ano. Mas, ameaçou: “Se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir”.
LOUCURA NEOLIBERAL
Sobre esse absurdo, o programa Fórum Café, da Revista Fórum, ouviu o economista Paulo Kliass. “Não é a primeira vez que essa análise ocorre. A tese de frear o avanço do mercado de trabalho com alta de juros é uma das ‘loucuras’ dos neoliberais. Isso é um elemento recorrente e permanente nas avaliações do pessoal do sistema financeiro, da ortodoxia, os neoliberais. Isso não é novo”, disse.
Kliass lembra da atuação de Joaquim Levy (indicado pelo Bradesco para assumir o Ministério da Fazenda no segundo governo de Dilma Rousseff (PT), em 2014. “Ele colocou em prática exatamente o que está descrito na ata do Copom. Na visão desse pessoal existe o conceito de PIB Potencial, que é o quanto a economia pode crescer em determinado período. E se crescer mais que esse PIB potencial, que ninguém sabe como se calcula, você tem riscos. E o que pode acontecer? Você pode ter aumento de salários – como aconteceu nos dois mandatos de Lula e no primeiro de Dilma. Isso coloca mais recursos na economia e as pessoas vão consumir mais. E de acordo com essa tese conservadora, isso eleva a demanda agregada, que pressiona preços. Como não tem oferta, acontece a inflação. É uma coisa esquemática, a realidade está cansada de provar o oposto, mas os caras se vangloriam”, afirma.
Segundo o economista, Joaquim Levy dizia que tinha que reduzir o valor real do rendimento médio dos trabalhadores e impedir que o crescimento do PIB aumente. “Resumo: 2015 foi uma das maiores recessões da história recente do Brasil. Porque foi uma intenção: eu tenho que provocar recessão, desemprego, redução de salário para impedir que a inflação volte. É uma loucura isso”, criticou Paulo Kliass.
com informações da Revista Fórum
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