Na cidade mais negra fora da África, é preciso conhecer a história para não cometer erros absurdos, como fez a loja Hangard das Artes. Localizada no aeroporto de Salvador, vende peças de cerâmicas de negros escravizados. Isso gerou revolta nas redes sociais após imagens serem divulgadas pelo historiador Paulo Cruz. Segundo o G1, o carioca havia visitado a capital e, ao retornar para o Rio de Janeiro, onde mora, viu as peças no domingo (6), ficando indignado.
“Foi um choque tremendo né? Em primeiro lugar porque eu acho que é um tipo de coisa que não deve se comercializar em lugar nenhum, muito menos uma cidade como Salvador, principalmente depois da experiência que eu tive, vendo a vivência das pessoas pretas, dos movimentos e tudo mais”, contou o historiador.
Os itens mostram homens e mulheres acorrentados pelas mãos, remetendo ao período escravocrata que durou até 1888 no Brasil. Ainda conforme o portal, as peças estavam em uma das prateleiras da loja com a etiqueta: “Escravos cerâmica – R$ 99,90 a unidade”.
Não deu outra. Após a repercussão, a empresa justificou a venda da cerâmica por meio de nota de retratação e pediu desculpas as pessoas que se sentiram feridas e menosprezadas.
A ÍNTEGRA DA NOTA
“A loja Hangar das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de hoje (07/02/2022). Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.
Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.
As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) – espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.
Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.
Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade. Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido”
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