Depoimentos prestados à Polícia Federal, por três funcionários do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), relataram pressões da cúpula do Ministério da Justiça durante o processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.
A PF investiga se houve tentativa de obstruir o procedimento por parte do governo federal. Para a polícia, o secretário nacional de Justiça, Vicente Santini, pode ter cometido o crime de “embaraço a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”. A pena prevista é de reclusão de três a oito anos, por sua tentativa de interferência no processo de extradição. Detalhe: Santini é amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e já se envolveu em outras polêmicas ao passar por diversos cargos no governo federal.
Os relatos de interferência foram feitos pela ex-diretora do DRCI, a delegada de Polícia Federal Silvia Amélia Fonseca de Oliveira, pelo coordenador de extradição do DRCI, Rodrigo Sagastume, e pela diretora substituta do DRCI, Priscila Campelo. Silvia Amélia inclusive foi exonerada pelo ministério após ter encaminhado o processo de extradição. A PF afirma que sua exoneração ocorreu pelo fato de “não ter dado ciência” à cúpula do ministério sobre a extradição.
Todos afirmam que o processo envolvendo Allan dos Santos foi a primeira vez em que a cúpula do Ministério da Justiça pediu informações, cópia do processo e tentou interferir no procedimento. O DRCI é subordinado ao ministério. Mas, quando isso ocorreu, o DRCI já tinha encaminhado o pedido de extradição para o Ministério das Relações Exteriores, que o despachou para os Estados Unidos.
A ex-diretora Silvia Amélia relatou que recebeu telefonema do chefe de gabinete do ministro Anderson Torres, o brigadeiro Antônio Ramirez Lorenzo, pedindo informações sobre o caso do blogueiro. Como ela estava de férias, Silvia Amélia relata ter encaminhado o pleito para a diretora substituta Priscila Campelo.
RESUMO DA ÓPERA – O presidente Bolsonaro vive dizendo que seu governo não interfere em órgãos de investigação, mas na prática não é bem assim. O que se vê é o governo aparelhando o judiciário com indicações de pessoas sob sua influência e retalhando vários delegados Polícia Federal, estranhamente que estavam em casos envolvendo filhos ou aliados do presidente.
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