Mostrando mais mulheres de valor no Março Mulher, o Pela traz uma reportagem do site Entre Becos, que mostra as periferias de Salvador e fala de “mães atípicas”. É um termo novo, mas de grande significado e importância para a nossa sociedade atualmente.
Trata-se das mães de pessoas com deficiência ou doenças raras. São mulheres, geralmente com rotinas sobrecarregadas, que enfrentam desafios na busca por direitos e políticas públicas para o desenvolvimento dos filhos.
Encontrar escolas especializadas para os filhos autistas, buscar uma rede de apoio e até fazer cursos, principalmente na área pedagógica, são algumas das ações que vieram com a realização do sonho da maternidade para mães atípicas de Sussuarana, bairro periférico da capital baiana.
A trancista Mércia Sacramento, 30, além de mãe atípica, é mãe solo de Ítalo Sacramento, 8, diagnosticado com autismo por um neuropediatra, aos dois anos de idade, após um alerta da escola. “Foi difícil no início, mas consegui construir um vínculo forte com meu filho. Busquei informações para saber as melhores formas de lidar com a situação dele. Temos visto uma divulgação maior sobre o TEA, por conta das redes sociais. Mas a acessibilidade para o portador de TEA e sua família ainda é muito pouca”, diz.
PRECONCEITO
TEA é a sigla para Transtorno do Espectro do Autista, que é caracterizado por problemas na comunicação e interação social e pela presença de interesses ou comportamentos restritivos e repetitivos, como define o Manual de Orientação do Transtorno do Espectro do Autismo, elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Sempre atenta ao desenvolvimento dos filhos, a pedagoga Jaquilene Moreira, 26, mãe de Davi, 4, e Apolo, 1, suspeitou de algo diferente no filho mais velho ao observar alguns comportamentos repetitivos dele. “Ele balançava muito as mãos, corria muito de um lado para o outro. Com os sinais que ele dava, comecei a pesquisar sobre o autismo, e vi que poderia ser o quadro dele”, conta.
O fato da criança demorar para começar a falar também chamou a atenção de Jaquilene e sua família. Jaquilene também lida diariamente com o preconceito e a falta de inclusão. “Confesso que me incomoda um pouco os olhares de algumas pessoas que, por falta talvez de instrução ou conhecimento, demonstram falta de empatia diante de uma pessoa que tem uma deficiência”, revela.
EDUCAÇÃO APROPRIADA
Estudante de publicidade, Danúbia Santos, 36, mãe de Almir Santos, 4, compartilha desse sentimento. “Para uma mãe, é difícil ver outras crianças agirem de uma forma e seu filho agir totalmente diferente. Meu medo maior é a sociedade, que é extremamente maliciosa e preconceituosa. Ele já é uma criança preta, periférica e ainda autista”, desabafa.
Para ajudar no desenvolvimento do pequeno Almir, Danúbia também passou a procurar cursos de especialização e, neste ano, precisou transferi-lo de escola, já que a instituição pública de Sussuarana, onde moram, não possuía um atendimento especializado para acompanhá-lo. Além da rotina escolar, ela também desenvolve outras atividades com o
filho.
“Em casa, busco estimulá-lo da melhor forma possível, inclusive, uso o hiperfoco dele, que é a tecnologia. Procuro aplicativos que ajudem ele no desenvolvimento da fala e que ajudem a ter uma melhor percepção de mundo; que ele aprenda sobre cores; que o ajude a identificar objetos”.
A especialista em Educação Especial e mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social Silvia Conceição, 47, ressalta que o estímulo feito às crianças contribuem para o desenvolvimento das suas habilidades tanto nas atividades pedagógicas, na escola, como em casa, na companhia da família.
“É muito importante que a criança com TEA participe das aulas, nas salas regulares, com o acompanhamento pedagógico do professor de Educação Especial para que ela possa construir seus aprendizados de forma construtiva e significativa. Precisamos salientar que a criança com autismo precisa de acolhimento, parceria e socialização dela com a escola e a família”.
TEM LEI
A lei federal 12.764/12 determina que a atuação do acompanhante especializado é obrigatória quando o autista apresenta dificuldades nas atividades escolares desenvolvidas. Os custos da contratação e manutenção desse profissional devem recair sob a responsabilidade exclusiva da escola, ficando a família absolutamente isenta de qualquer despesa neste sentido.
com informação do Entre Becos / Imagem: Gabrielle Guido
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