Além de não garantir no Orçamento do ano que vem o valor de R$ 600,00, a política eleitoreira do presidente Jair Bolsonaro criou uma grave distorção com o Auxílio Brasil. Entre os novos beneficiários, 1,1 milhão dessas famílias são formadas por apenas uma pessoa (54% do total). Em menos de um ano de programa, o número de famílias assim mais do que dobrou no cadastro do governo: saiu de 2,2 milhões em outubro de 2021 para 4,9 milhões no mês passado.
O programa ainda deve incluir mais 804 mil famílias agora em setembro, às vésperas da eleição. O percentual das chamadas famílias unipessoais chama atenção porque destoa do dado histórico do programa, que era o mesmo da média de domicílios no país com apenas uma pessoa segundo o IBGE, ou seja, 15%.
Segundo especialistas ouvidos pela coluna de Carlos Madeiro, do UOL, o aumento de famílias unipessoais cadastradas tem a ver com a mudança no desenho do benefício social: passou a não ter como referência o número de integrantes da família ao instituir um piso que atende a quase todas as composições.
Hoje, uma pessoa que mora sozinha recebe o mesmo valor de uma família com seis pessoas (R$ 600). No Bolsa Família, quanto mais integrantes em uma família, maior era o valor. Os especialistas afirmam que a nova concepção do programa teve uma visão eleitoral ao buscar beneficiar um número máximo de pessoas adultas, sem dar reajuste às famílias com mais crianças, por exemplo.
EQUÍVOCO SEM PREOCUPAÇÃO SOCIAL
A socióloga Letícia Bartholo, especialista em gestão e políticas públicas e ex-secretária nacional adjunta de Renda de Cidadania entre 2012 e 2016, afirma que esse equívoco vem de mudanças feitas pelo governo. Para ela, o formato do Auxílio Brasil, diferentemente do Bolsa Família, não leva em conta a quantidade de moradores em um domicílio para determinar o valor a ser pago. “Na verdade, ele privilegia quem mora sozinho. Quem recebe o maior valor por pessoa é quem mora só. Por isso o aumento nessa busca”, relata.
Para Letícia, historicamente, o Bolsa Família tinha média de três pessoas por domicílio, e isso começou a cair a partir do anúncio do Auxílio Brasil. “Hoje, essa média está em 2,65 moradores. Nesse período, não houve nenhuma mudança no padrão de domicílios unipessoais no país. “Hoje, no Auxílio Brasil, as famílias unipessoais representam 24%, quando a média nacional é 15%. Isso deixa claro que está havendo um desvirtuamento do programa, que vai custar caro e dar trabalho para ser resolvido”, afirma.
Segundo o economista e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) Cícero Péricles, a decisão de ampliar o número de pessoas beneficiárias sem controle ocorreu porque ela foi mais política do que social.
“Atender a demanda por Auxílio Brasil de maneira flexível no último ano de mandato governamental, em pleno período eleitoral, reflete a expectativa de se obter ganhos na opinião pública e, por tabela, apoio eleitoral dos segmentos beneficiados pela ampliação do programa”, diz. Isso fica claro, ressalta, nos critérios de seleção do público, que são “menos rígidos, prevalecendo o aspecto quantitativo sobre aqueles que, antes, privilegiavam a população mais vulnerável”.
com informações do UOL
Compartilhe no WhatsApp
Comments