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Comida cara no Brasil com safras recordes? Especialistas apontam motivos

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Bloomberg / Susana Gonzalez

O IIBGE divulgou, nesta quinta (15), uma previsão para a safra brasileira neste ano. A estimativa de produção tende a ser ainda maior do que o instituto pensava: 328,4 milhões de toneladas. É 12,2% maior que a safra colhida em 2024, de 292,7 milhões. “Em 2024, tivemos uma série de problemas climáticos afetando as principais lavouras do Brasil. Em 2025, temos uma safra de recuperação, com o clima muito melhor para o desenvolvimento das lavouras”, afirmou Carlos Guedes, gerente de agricultura do Instituto.

Estranhamente, essa recuperação não se converteu em redução de preço de alimentos, até agora. Pelo IBGE, em abril, a alta acumulada em 12 meses dos itens de comida e bebida chegou a 7,81% Durante o governo Lula (PT), a inflação dos alimentos caiu em 2023, fechando em 1,03%, mais que dez vezes menos do que os 11,64% de alta registrados em 2022, último ano do governo Bolsonaro (PL).

Mas, a partir do final de 2023, a inflação dos alimentos no Brasil mantém uma tendência de alta. E nem a safra recorde, já parcialmente colhida nos primeiros meses deste ano, ajudou a reduzir a pressão sobre o custo da comida.

MOTIVOS

Para especialistas, a primeira explicação é que, apesar de colher uma safra recorde de grãos, o Brasil não colhe safra recorde de comida nem uma quantidade recorde de produtos para abastecimento interno. A soja é o maior exemplo, sendo metade do que vamos produzir em 2025, segundo o IBGE. Serão 164,2 milhões de toneladas do grãos do total de 328,4 milhões.

Ela não faz parte da dieta tradicional brasileira e, por isso, cerca de 65% dos grãos são exportados (70% vão para a China). A produção de milho representa outros 39% da produção nacional e vai bem. Devem ser colhidos 128,2 milhões de toneladas do grãos. Parte disso também será exportado, não se revertendo totalmente em redução de preço do milho no Brasil.

COMMODITIES x ALIMENTOS

Outro problema é a relação entre commodities (produtos produzidos para venda no exterior) e alimentos. “É preciso fazer uma distinção entre produção de commodities e produção de alimentos. Elas têm comportamentos bem distintos no que diz respeito ao atendimento de necessidades econômicas e sociais. Nos últimos anos, o Brasil vem produzindo cada vez menos alimentos e cada vez mais commodities. Por isso, apesar dos resultados recordes de produção, a inflação de alimentos tem sido cada vez mais severa”, diz Paulo Petersen, agrônomo e membro do núcleo executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

José Giacomo Baccarin, professor de economia e política agrícola da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e diretor do Instituto Fome Zero (IFZ), vai na mesma linha. “A causa básica do aumento dos produtos alimentícios é que passamos a exportar muito neste século. É preciso direcionar a produção para que ela não seja tão voltada ao mercado externo. Precisamos ter alguma capacidade de arbitrar publicamente entre o abastecimento do mercado interno e a exportação. Hoje, quem faz essa arbitragem é a iniciativa privada, por grupos econômicos”, afirma.

Baccarin cita o exemplo da carne para mostrar como o foco na exportação pode ter efeitos nocivos. O produto subiu 20,8% durante 2024. Isso porque os frigoríficos bateram recordes de exportação no ano, aumentando em 30% suas vendas ao exterior.

RISCOS

Carolina Bueno, economista e pesquisadora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade da Califórnia, diz que a agricultura para exportação cria riscos para o país, especialmente quanto à segurança alimentar. “Isso reduz a diversidade de alimentos disponíveis internamente e deixa o país vulnerável a oscilações de mercado e eventos climáticos extremos”, pondera.

Outro problema, segundo ela, é o efeito disso sobre meio ambiente. “Esse modelo, altamente dependente de monoculturas, está associado a pressões sobre biomas como o Cerrado e a Amazônia, intensificação do uso de agrotóxicos e degradação de solos”, diz.

com informações do Brasil de Fato

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