Cerca de dois meses após o início da vacinação contra a Covid-19 das crianças, nem metade do grupo entre 5 e 11 anos recebeu a primeira dose. O índice é de quase 43%, segundo dados do Ministério da Saúde. Já em relação à segunda dose, cai para pouco mais de 6%.
Especialistas ouvidos pela CNN avaliam que a imunização infantil caminha com lentidão e que os principais desafios para o avanço são as notícias falsas, a percepção de que a doença não causa casos graves em crianças e a necessidade de busca ativa.
Raphael Guimarães, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e integrante do Observatório Covid-19 da fundação, defende a urgência de alavancar a campanha de imunização infantil, especialmente diante da volta às aulas presenciais e da flexibilização do uso da máscara facial.
“Sem vacina, essa população em si está desprotegida e a gente ainda tem a circulação do vírus. Como os adultos já estão vacinados, as crianças se tornam alvos fáceis para o vírus”, alertou.
Nessa quinta-feira (17), a Fiocruz divulgou o novo boletim Infogripe. Segundo o documento, a incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave em crianças cresceu ao longo de fevereiro, durante a volta às aulas.
Testes preliminares em laboratório revelam que, além dos casos associados ao Vírus Sincicial Respiratório, que afeta a respiração por meio de uma infecção, o motivo do aumento também é a interrupção da queda dos casos de coronavírus.
Além disso, uma nota técnica divulgada pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz defende que o principal desafio na campanha de vacinação é o público entre 5 e 11 anos, que representa 9,5% da população brasileira.
“Os divulgadores de notícias falsas elevaram o tom da especulação, causando insegurança em muitos pais sobre os riscos de vacinar seus filhos”, alerta o documento.
Raphael Guimarães pontua que convencer os pais é fundamental. “A primeira coisa que eu digo para os pais é: todos os filhos de vocês que já passaram pelo calendário básico vacinal tomaram pelo menos 22 doses e ninguém nunca questionou a eficácia ou segurança. Porque tinha um trabalho anterior, só é liberado quando há estudos por parte da Anvisa, todo o trabalho técnico feito contra o sarampo, poliomielite e coqueluche, por exemplo, foi feito contra a Covid-19”, esclarece.
O pesquisador ainda destaca que os leitos infantis de UTI são um ‘gargalo’ dos sistemas público e privado de saúde. Assim, qualquer aumento nos casos graves de uma doença em crianças se torna um problema para a rede de atendimento.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, também reforça que a vacina é segura e eficaz, além de ser especialmente necessária para evitar casos graves de infecção pelo coronavírus.
“Com a Covid, a criança tem menos chance de hospitalização e de ir a óbito que um idoso. A gente repetiu isso durante muito tempo e ninguém mudou de ideia. Quando a gente não tinha vacina para todo mundo, a gente começou pelos grupos prioritários e a criança ficou por último, mas não quer dizer que não seja grave pra ela. Foram 34 mil hospitalizações somente até o ano passado, número que subiu durante essa onda da Ômicron”, destacou.
Isabella Ballalai também defendeu mais transparência na divulgação dos dados da vacinação infantil para o planejamento de políticas públicas. O Vacinômetro do Ministério da Saúde, por exemplo, não traz o percentual de crianças imunizadas, apenas o de doses aplicadas. A CNN questionou a pasta sobre o fato e aguarda um retorno.
Diante dos desafios, os especialistas argumentam a necessidade de campanhas de conscientização, vacinação nas escolas e visitas domiciliares dos agentes comunitários de saúde, em busca de informar os pais sobre a importância do imunizante contra o coronavírus.
Com informações CNN Brasil
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