Os dados do novo Censo mostram uma triste realidade no Brasil: existem 11,4 milhões de domicílios vazios e 6 milhões de pessoas sem casa para morar. É quase o dobro do número de famílias que não têm onde morar ou que vivem em condições muito precárias. O levantamento é da Fundação João Pinheiro, realizado em 2019.
Após 12 anos sem a principal fotografia da sociedade brasileira, os primeiros números do Censo de 2022 foram divulgados pelo IBGE no dia 28 de junho. E mostrou que o país bateu recorde em casas inabitadas: a cada 100 domicílios particulares, 13 estão vagos. Eles estão à venda, para alugar, abandonados ou esperando para ser demolidos. São Paulo é o estado que mais impulsiona o dado. São 2 milhões de moradias vazias, representando 12% de todas as que existem no estado.
Outra contradição revelada foi que a população cresce menos e o número de imóveis vazios aumenta. Os cálculos estimavam que os habitantes do país chegariam a 207 milhões. Mas, a pesquisa constatou atualmente 203 milhões. Entre 2010 e 2022, enquanto a população no país cresceu 6%, os domicílios vazios saltaram 87%. Entre 2010 e 2022, o número de domicílios aumentou 34%, chegando a 90 milhões.
VÁRIOS FATORES
O que explica isso? “O aumento do custo dos aluguéis, dos despejos e das pessoas em situação de rua, a expulsão dos pobres das regiões mais valorizadas, a reserva de territórios para o mercado imobiliário, a falta de políticas públicas e planos diretores excludentes, a destinação de imóveis para locação temporária para Airbnb são algumas das variáveis que podem explicar esse cenário”, elenca Benedito Barbosa, da União de Movimentos de Moradia (UMM).
O sociólogo, demógrafo e professor da Unicamp Roberto do Carmo elenca três processos que o Censo 2022 reforça: a crescente população em áreas urbanas, mudanças na estrutura da família e a lógica das cidades regidas pelo mercado imobiliário. “Ao longo desses 60 anos, houve um aumento da população residindo nas áreas urbanas do Brasil da ordem de 150 milhões de pessoas”, destaca Carmo. “Esse processo longo e complexo aconteceu sem planejamento anterior e grande parte da população até hoje não conseguiu ter acesso a um pedaço de terra para moradia digna”, aponta, salientando que a dinâmica se reproduz das grandes até as pequenas cidades.
MUDANÇA NAS FAMÍLIAS
O sociológo diz que, ao longo das últimas décadas, o Brasil vive uma mudança na característica geral das famílias. O aumento dos divórcios e da longevidade são características que podem explicar que existam mais pessoas vivendo sozinhas e, portanto, mais demandas por domicílios. Para ele, o grande fator é a superprodução habitacional.
“As cidades brasileiras, em grande parte, são organizadas pelo mercado imobiliário. E o mercado imobiliário, principalmente nos últimos anos, não tem muita correspondência com a realidade. É marcado pela ideia do imóvel como investimento. Quando há investimento, não é necessário ter uma demanda concreta de pessoas para comprar aquele bem. Com isso, existe essa superprodução de imóveis fora da realidade da demanda habitacional, e isso necessariamente terá que ser revisto à luz dos dados apresentados pelo Censo”, defende.
com informações do Brasil de Fato
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