A sociedade norte-americana depende econômica e afetivamente dos imigrantes de vários outros países, inclusive latino-americanos. E pode ser um tiro no pé de Donald Trump, fazer a deportação de milhões de imigrantes ilegais. Uma pesquisa divulgada em julho de 2024, pelo Pew Research Center, mostrou que havia, cerca de 11 milhões de estrangeiros não autorizados vivendo nos Estados Unidos, em 2022. Essa população oferecia um contingente de 8,3 milhões de trabalhadores para a economia.
Pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil, afirmam que, caso Trump decida deportar todos os imigrantes ilegais e tenha os recursos para isso, a situação pode gerar um enorme déficit de mão de obra. Isso poderá causar impactos devastadores para a economia norte-americana.
“Se a gente considerar que a retórica do Trump será concretizada, o impacto para o americano comum seria absurdo. Várias indústrias seriam colocadas em caos, pelo menos no curto prazo, particularmente a indústria alimentícia, que é absolutamente dependente de mão de obra subempregada, de imigrante ilegal”, destaca o pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Thaddeus Gregory.
De acordo com a professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carla Beni, os setores de coleta de frutas e de laticínios, por exemplo, seriam muito afetados. “A grande população que trabalha nas fazendas, executando toda essa produção, que trabalha numa escala muito maior do que o americano trabalharia, recebe menos porque não tem documentação. Ele não tem documentação e é explorado pelo empresário americano ou mesmo por um outro empresário imigrante que já está legalizado. Esses empregos estão disponíveis para qualquer americano, mas a maioria não quer trabalhar coletando tomates a 5 dólares por hora. Como eles [empresários] vão dar conta dessa enorme necessidade de mão de obra barata?”, questiona.
Segundo Thaddeus Gregory, outro setor que deve sofrer com carência de mão de obra é o de serviços. “Particularmente, as pequenas empresas serão afetadas, como aquela empresa de jardinagem, que emprega seis ou sete salvadorenhos, que não sabe como está a situação de imigração deles porque [o empresário] não pergunta. E muitas dessas pequenas empresas ironicamente têm donos que são apoiadores de Trump. É a pequena burguesia americana, que será muito afetada”.
MAIS PROBLEMAS
Para o professor de História da América, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Moll, a deportação em massa de imigrantes deve elevar o preço da mão de obra nos Estados Unidos. “Consequentemente, isso elevará os preços e a inflação. Isso pode forçar o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, a elevar os juros. Em conjunto, neste cenário, provavelmente, as empresas sediadas nos Estados Unidos, principalmente em setores mais endógenos da economia, perderiam ainda mais competitividade”, afirma.
Outro efeito seria uma exploração ainda maior dos trabalhadores que não sejam deportados. Com receio de demandar melhores salários e melhores condições de trabalho, essas pessoas podem ser submetidas a uma precarização ainda mais acentuada. “Eles vão se sujeitar a trabalhos ainda mais degradantes e mais mal pagos para que não sejam denunciados para o governo pelo empregador. Então vão aceitar algumas condições ainda mais irregulares para eles. Sem dúvidas, esses imigrantes acabam sendo infelizmente uma reserva de mão de obra barata e a situação do que daquelas pessoas que ficam, né, que não são deportadas, pode ainda ficar pior”, explica o coordenador do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo), Rubens Duarte.
com informações da Agência Brasil
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